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domingo, 30 de agosto de 2015

O PRÍNCIPE MIGUEL E A BORBOLETA GIGANTE






O príncipe Miguel, que estava acostumado a ter sempre todos os seus desejos realizados, não aceitaria tão facilmente a derrota...

Ele ordenara a sete de seus melhores soldados que fossem à ilha encantada capturar a borboleta que faltava para a sua coleção, e eles não retornaram. Ele pensou consigo: “Se os meus melhores homens falharam, será inútil enviar mais alguém... Eu mesmo terei que ir, até lá, buscar aquela preciosidade.”. E o príncipe remou sozinho até a misteriosa ilha.

Miguel era muito astuto e cauteloso... Quando ele chegou à ilha, escondeu o barco e começou a caminhar devagar, porque imaginava que houvesse armadilhas por toda a parte.

Após algumas horas, ele ouviu um gemido seguido de um pedido de socorro. Ele se aproximou da borda do buraco que havia sido cavado no chão e, ao olhar em seu interior, reconheceu Algenor. Disse: “Felizmente você está vivo, e os outros também devem estar... Como você foi parar aí no fundo, se existe esta grade bloqueando a passagem?!...”.

Algenor respondeu: “Ela não estava aí no momento em que caí... Havia galhos cobrindo o buraco. Vossa Alteza terá o mesmo destino se não tiver cuidado.”.

Miguel comentou: “Você deve estar com sede e fome...”. Algenor respondeu: “Não, Alteza. Do mesmo modo que a grade surgiu, também apareceu um cesto, aqui dentro, com uma jarra de água e frutas. Quem construiu as armadilhas usou magia e deve estar tentando se proteger.”.

Miguel exclamou: “Bobagem!... Não me diga que também acredita que a borboleta gigante seja uma mulher!... Eu também já ouvi dizer que ela é uma princesa encantada, mas isso não passa de invenção!...”.

Algenor aventurou-se a dizer: “Eu ouvi bem mais do que isso: Embora todos a vejam como uma borboleta gigante, mesmo em pleno voo, ela continua sendo uma jovem. O homem que desejar matá-la a verá como ela realmente é, e se apaixonará por ela... Mas será tarde demais.”.

Miguel tornou a exclamar: “Bobagem! A borboleta gigante é um capricho da natureza, e nada tem a ver com o fato de você estar preso aí. Preciso encontrar os outros e descobrir por que alguém teria interesse em manter esta ilha apenas para si.”.

O príncipe Miguel revestiu-se de cautela e caminhou até chegar a uma estranha habitação construída de barro e folhas. Quando ele abriu a porta e entrou, a borboleta gigante voou em sua direção.

Miguel conseguiu segurá-la e admirou-se com a reação de outras borboletas pequenas que o atacavam em uma tentativa desesperada de libertá-la. Elas só pararam quando perceberam que a borboleta gigante havia desistido de lutar e parecia resignada com a sua sorte.

Miguel disse sem pensar: “Assim é melhor!... Não me obrigue a matá-la antes da hora... Está vendo só esta faca?... Se você ameaçar abrir suas asas para voar e fugir de mim, ela será cravada no seu tórax. Eu já matei muitas borboletas tão belas quanto você; a única diferença agora é que você é bem maior do que elas. Não teste a minha paciência.”.

Nesse exato momento, Miguel teve a impressão de ouvir a borboleta gigante murmurar: “Eu te amo...”. Confuso, ele perguntou: “O que foi que você disse?!...”. Ele não obteve resposta... A borboleta gigante parecia ter desmaiado em seus braços... Ele caminhou e a depositou sobre um divã que havia próximo a uma janela.

O coração de Miguel enterneceu-se quando as borboletas, que o haviam atacado, pousaram sobre a cabeça e as asas da borboleta gigante... E a magia, a partir daquele momento, em vez de trabalhar contra Regina, começou a inverter o seu curso e mostrou a Miguel como ela realmente era. O encanto estava desfeito.

A ternura, que minutos antes preenchera o coração de Miguel, agigantou-se e transformou-se em paixão. Ele se ajoelhou ao lado de Regina e pediu a ela que o perdoasse. A jovem abriu os olhos e sorriu docemente.

Miguel estava encantado com tanta beleza... Ele perguntou: “Qual é o seu nome?...”. Enquanto acariciava as borboletas que enfeitavam os seus longos cabelos ruivos, ela confidenciou: “Regina. Eu sou filha de uma feiticeira. Ela se casou com um rei bondoso, em vez de aceitar unir-se a um mago poderoso. O mago não conseguiu perdoá-la e, para vingar-se de minha mãe, quando eu tinha cinco anos, ele entrou no meu quarto e disse que, embora eu continuasse a ser uma criança, todos me veriam como uma borboleta. Eu chorei porque ele segurava um frasco e borrifou um líquido verde e viscoso sobre mim. Depois disso, para a minha proteção, a minha mãe me trouxe para cá e disse que as pessoas só tornariam a ver a minha verdadeira aparência depois que eu me apaixonasse.”.

Quando Regina calou-se, os olhos de Miguel estavam mergulhados nos olhos dela, e ele a beijou docemente. 



Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias

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