O príncipe Miguel, que
estava acostumado a ter sempre todos os seus desejos realizados, não aceitaria
tão facilmente a derrota...
Ele ordenara a sete de
seus melhores soldados que fossem à ilha encantada capturar a borboleta que
faltava para a sua coleção, e eles não retornaram. Ele pensou consigo: “Se os meus
melhores homens falharam, será inútil enviar mais alguém... Eu mesmo terei que
ir, até lá, buscar aquela preciosidade.”. E o príncipe remou sozinho até a
misteriosa ilha.
Miguel era muito astuto
e cauteloso... Quando ele chegou à ilha, escondeu o barco e começou a caminhar
devagar, porque imaginava que houvesse armadilhas por toda a parte.
Após algumas horas, ele
ouviu um gemido seguido de um pedido de socorro. Ele se aproximou da borda do
buraco que havia sido cavado no chão e, ao olhar em seu interior, reconheceu
Algenor. Disse: “Felizmente você está vivo, e os outros também devem estar...
Como você foi parar aí no fundo, se existe esta grade bloqueando a passagem?!...”.
Algenor respondeu: “Ela
não estava aí no momento em que caí... Havia galhos cobrindo o buraco. Vossa
Alteza terá o mesmo destino se não tiver cuidado.”.
Miguel comentou: “Você
deve estar com sede e fome...”. Algenor respondeu: “Não, Alteza. Do mesmo modo
que a grade surgiu, também apareceu um cesto, aqui dentro, com uma jarra de
água e frutas. Quem construiu as armadilhas usou magia e deve estar tentando se
proteger.”.
Miguel exclamou:
“Bobagem!... Não me diga que também acredita que a borboleta gigante seja uma
mulher!... Eu também já ouvi dizer que ela é uma princesa encantada, mas isso
não passa de invenção!...”.
Algenor aventurou-se a
dizer: “Eu ouvi bem mais do que isso: Embora todos a vejam como uma borboleta
gigante, mesmo em pleno voo, ela continua sendo uma jovem. O homem que desejar
matá-la a verá como ela realmente é, e se apaixonará por ela... Mas será tarde
demais.”.
Miguel tornou a
exclamar: “Bobagem! A borboleta gigante é um capricho da natureza, e nada tem a
ver com o fato de você estar preso aí. Preciso encontrar os outros e descobrir
por que alguém teria interesse em manter esta ilha apenas para si.”.
O príncipe Miguel
revestiu-se de cautela e caminhou até chegar a uma estranha habitação
construída de barro e folhas. Quando ele abriu a porta e entrou, a borboleta
gigante voou em sua direção.
Miguel conseguiu
segurá-la e admirou-se com a reação de outras borboletas pequenas que o
atacavam em uma tentativa desesperada de libertá-la. Elas só pararam quando
perceberam que a borboleta gigante havia desistido de lutar e parecia resignada
com a sua sorte.
Miguel disse sem
pensar: “Assim é melhor!... Não me obrigue a matá-la antes da hora... Está
vendo só esta faca?... Se você ameaçar abrir suas asas para voar e fugir de mim,
ela será cravada no seu tórax. Eu já matei muitas borboletas tão belas quanto
você; a única diferença agora é que você é bem maior do que elas. Não teste a
minha paciência.”.
Nesse exato momento, Miguel
teve a impressão de ouvir a borboleta gigante murmurar: “Eu te amo...”.
Confuso, ele perguntou: “O que foi que você disse?!...”. Ele não obteve
resposta... A borboleta gigante parecia ter desmaiado em seus braços... Ele
caminhou e a depositou sobre um divã que havia próximo a uma janela.
O coração de Miguel
enterneceu-se quando as borboletas, que o haviam atacado, pousaram sobre a
cabeça e as asas da borboleta gigante... E a magia, a partir daquele momento,
em vez de trabalhar contra Regina, começou a inverter o seu curso e mostrou a
Miguel como ela realmente era. O encanto estava desfeito.
A ternura, que minutos
antes preenchera o coração de Miguel, agigantou-se e transformou-se em paixão.
Ele se ajoelhou ao lado de Regina e pediu a ela que o perdoasse. A jovem abriu
os olhos e sorriu docemente.
Miguel estava encantado
com tanta beleza... Ele perguntou: “Qual é o seu nome?...”. Enquanto acariciava
as borboletas que enfeitavam os seus longos cabelos ruivos, ela confidenciou:
“Regina. Eu sou filha de uma feiticeira. Ela se casou com um rei bondoso, em
vez de aceitar unir-se a um mago poderoso. O mago não conseguiu perdoá-la e,
para vingar-se de minha mãe, quando eu tinha cinco anos, ele entrou no meu
quarto e disse que, embora eu continuasse a ser uma criança, todos me veriam
como uma borboleta. Eu chorei porque ele segurava um frasco e borrifou um
líquido verde e viscoso sobre mim. Depois disso, para a minha proteção, a minha
mãe me trouxe para cá e disse que as pessoas só tornariam a ver a minha
verdadeira aparência depois que eu me apaixonasse.”.
Quando Regina calou-se,
os olhos de Miguel estavam mergulhados nos olhos dela, e ele a beijou docemente.
Texto: Sisi Marques
Arte: Felipe Farias
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