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segunda-feira, 12 de outubro de 2015

O TRIANGAVE E A FLORESTA DE ÁRVORES TRIANGULARES







A bruxa Trianga olhava para o príncipe Celestino, como se desejasse fulminá-lo, enquanto ele dizia: “Mesmo que você transformasse todas as árvores do meu reino em triângulos... Mesmo que você reduzisse o meu próprio corpo a triângulos... Eu jamais me casaria com você, Trianga!...”.

Celestino mal acabou de pronunciar o nome da bruxa e lá estava ele, transformado em pássaro, ganhando o céu através de uma das janelas de seu castelo!... Ele ainda pôde ouvir Trianga gritar: “Vá, meu Triangave!... Vá, meu pássaro querido, assombrar com o seu canto noturno a sua floresta de árvores triangulares!...”.

Muitos meses se passaram antes que Lucimara, uma jovem princesa, entrasse na floresta e olhasse para as estranhas árvores com admiração!...




Ela murmurou: “Deve ser aqui que ele vive... Eu ouvi dizer que o lamento de seu canto faria até mesmo uma pedra chorar!... Se ele começar a cantar, eu terei que partir, porque eu não suportaria a tristeza!... Por outro lado, se ele não cantar, não conseguirei localizá-lo, e o meu pai não permitirá que eu retorne a essa floresta de árvores triangulares!... Trianga, aquela bruxa malvada!... Como pôde enfeitiçar o meu amor?!...”.




A noite chegou, e Lucimara ainda vasculhava o céu com o olhar à procura do Tringave. Um canto triste e dilacerante anunciou sua chegada. Ela tapou os ouvidos com as mãos e caiu de joelhos. Lá estava a ave pousada no topo de uma árvore, mas Lucimara mal conseguia vê-la, porque as lágrimas abundantes colocavam um oceano entre ela e o ser a quem tanto amava...

Antes de desmaiar, ela murmurou: “Você não me reconhece, Celestino, mas sou eu: Lucimara!... O que posso fazer para quebrar o encanto?!... Eu te amo e sempre te amarei!...”.

Quando Lucimara voltou a si, pensou que estivesse sonhando!... Ela sorriu ao ver o rosto de Celestino iluminado pelo amor que ele sentia por ela... As árvores não eram mais triangulares, e ela ouviu o seu grande amor dizer ternamente: “Você suportou a dor de me ver sofrer!... O seu amor foi maior do que a nossa autopiedade!... Levante-se, meu amor, e venha comigo!... Agora estamos livres para sermos felizes!...”.



Arte Sisi Marques (13)




Arte Sisi Marques (12)




Arte Sisi Marques (11)




sábado, 10 de outubro de 2015

CABEÇA NAS NUVENS E A FLORESTA DE ESTRELAS






“Cabeça nas nuvens” era o apelido de Adilson. Quando lhe perguntavam por que ele andava sempre tão distraído, ele respondia: “Eu sonho com a floresta de estrelas.”.

Talvez fosse desnecessário dizer que não havia um só amigo que não zombasse dele... Mas, para Adilson, isso não tinha a menor importância, porque ele havia lido, em um livro de contos de fada, que a floresta de estrelas seria real para quem acreditasse em sua existência!...

Certo dia, ele se deixou envolver tanto por aqueles pensamentos tecidos pela fantasia que ele imaginou ter ouvido alguém dizer: “Venha!.. No final desta rua existe uma árvore mágica... Feche os olhos e permita que o portal, que existe no tronco dessa árvore, o conduza à floresta de estrelas.”.

Adilson hesitou por um momento... Ele se perguntava se teria enlouquecido de vez... Mas ele amava a fantasia e não perderia aquela oportunidade por nada...

Ele entrou na rua deserta e sem saída... Após alguns minutos, lá estava ele tocando o tronco da árvore que, segundo a voz misteriosa, o levaria à floresta de estrelas. Confiando no que a voz dissera, ele fechou os olhos e sentiu sua mão afundar no tronco da árvore. Sem receio, ele atravessou o tronco e, quando abriu os olhos novamente, viu nuvens, que pareciam árvores, e estrelas, muitas estrelas!...




Chegara o momento da tão sonhada travessia!... Os seus pés não tocavam o chão!... Adilson estava flutuando!... E as estrelas dançavam ao seu redor!...

De repente, um pensamento passou a incomodá-lo: O que aconteceria se ele não conseguisse mais retornar?!... Aos poucos, o medo de perder o controle daquela situação tão envolvente foi se dissolvendo, e ele continuou flutuando, flutuando naquele mundo mágico e desconhecido!...

Ninguém nunca mais o viu... Muitas histórias foram contadas sobre Adilson, o Cabeça nas Nuvens!... Há quem diga que ele foi abduzido por alienígenas!... Mas eu prefiro acreditar que ele tenha encontrado a floresta de estrelas. 



Arte Sisi Marques (10)




Arte Sisi Marques (9)




terça-feira, 6 de outubro de 2015

ESTELINA E SUA VASSOURA MÁGICA





Aonde você iria se eu lhe desse a minha vassoura mágica?!... Pode começar a pensar, porque eu preciso me livrar desta vassoura que, a partir de amanhã, não me servirá mais para nada!...

O que acontecerá amanhã?!... Embora eu seja uma bruxa, acabei me tornando a rainha das fadas e, se eu quiser continuar sendo a rainha, terei que me casar com aquele príncipe charmoso que consegue atrair a atenção de todas as fadas do país das fadas.

Acontece que não sou uma fada e não estou nem um pouquinho apaixonada por ele... Talvez eu esteja só um pouquinho, mas, para me casar com o príncipe, eu teria que me separar da minha vassoura... Amanhã, depois que eu me casar, se eu me casar, ganharei asas e, como eu já disse, a minha vassoura não me servirá mais para nada!...

Asas!.. Você já viu uma bruxa com asas?!... Nem eu!... Eu ficaria ridícula se, de repente, crescesse um par de asas nas minhas costas!... Talvez seja melhor eu não me casar com o príncipe!...

O que você acha?!... Você está dizendo que eu devo me casar só porque deseja ficar com a minha vassoura!... Mas pode esquecer, porque, da minha vassoura, eu não me separarei!...

Já decidi: o príncipe e as fadas do país das fadas que procurem outra rainha!... E você que procure outra bruxa que possa lhe dar sua vassoura, porque, da minha vassoura mágica, eu jamais me separarei!!!... Adeus!...



Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O MAGO QUE SE TRANSFORMAVA EM ÁRVORE





Era uma vez um mago que se transformava em árvore, para ouvir os segredos que as pessoas contavam.

Se alguém sentasse perto dele e pensasse em voz alta ou confidenciasse algo a um amigo, no dia seguinte, o segredo deixaria de existir, e a amizade e a confiança também, porque o mago possuía um pássaro que ele enviava para espalhar a confidência aos quatro ventos.


Certo dia, o ser floral pediu a ajuda do ser estelar para terminarem de uma vez com a indiscrição do mago. Eles assumiram a forma humana e sentaram à sombra da falsa árvore para conversar...

O ser floral disse: “Precisamos ter cuidado!... Eu ouvi dizer que existe um mago que rouba segredos e os entrega a quem menos deveria. Ele semeia ódio e desconfiança.”.

O ser estelar respondeu: “Não se preocupe... Eu também ouvi dizer que ele está com os dias contados, porque existe um mago que é lenhador e possui um machado mágico. Ele jurou que um dia lançará seu machado para ceifar a árvore impostora!...”.

O ser floral e o ser estelar, ainda disfarçados de humanos, começaram a rir quando a falsa árvore desapareceu.

Dizem que ninguém nunca mais ouviu falar do mago que se transformava em árvore. Apesar disso, eu sempre evito cochichar meus segredos aos pés de uma árvore.



O HOMEM, O GAROTO E O CARRINHO




Era uma vez um homem humilde que sobrevivia recolhendo objetos que as pessoas não desejavam mais. Ele era muito educado e atencioso, e sabia como cativar as pessoas; e elas sempre se lembravam dele no momento de se desfazerem de seus pertences.

Ele era feliz?!... Provavelmente não!... Mas, sem dúvida, era sábio... Ele costumava dizer que toda infelicidade nasce da insatisfação!... E, segundo ele, até um rei poderia se tornar infeliz se fosse ganancioso ou invejoso e começasse a comparar o tamanho e a riqueza de seu reino com outros reinos maiores e mais prósperos do que o dele.

Mas nem toda a sabedoria daquele homem conseguia aliviar o peso que ele carregava diariamente... Quando ele estava muito cansado e desanimado, ele costumava pensar: “Eu até pareço um animal puxando este carrinho pesado!... Mas, se ele estivesse vazio, eu também estaria reclamando, porque eu não teria o que vender!... E, se eu tivesse um cavalo e uma carroça, também estaria reclamando porque, além de sustentar a mim e a minha família, eu teria que comprar comida para o cavalo!... Não há solução!... Eu não tenho esperança de mudar de vida!... Como este carrinho pesa!... O mundo talvez pese menos do que ele!...”.

Em uma dessas ocasiões em que o pobre homem perdia a esperança e começava a falar sozinho pelas ruas, um garoto que o observava há algum tempo disse: “Se você me contratasse, eu poderia ajudá-lo!...”. O homem exclamou: “Garoto doido!... De onde um pobre diabo como eu tiraria dinheiro para contratar um empregado?!... Essa foi boa!... Pelo menos me fez rir!... Vá brincar, garoto!...”.

E o homem ficou prestando atenção no que o garoto disse: “Você não precisa pagar a minha ajuda com dinheiro... Mas você promete que, se eu o ajudar, você me emprestará o seu carrinho para eu vender os bichos de pano que o meu pai e a minha mãe fazem?!...”.

Para a alegria do garoto, o homem respondeu: “Eu posso fazer melhor do que isso!... Sou muito bom com a linha e a agulha!... Enquanto você sai para vender os bichos, eu posso ajudar os seus pais a confeccionar mais e mais e mais bichos!... Talvez a bicharada nos traga sorte e, em vez de recolher coisas velhas, eu possa ajudar você a vender os bichos!...”.

O homem e o garoto firmaram o acordo com um esperançoso aperto de mão. Os pais do garoto aceitaram a ajuda, e os quatro prosperaram muito mais do que poderiam imaginar... Eles se tornaram sócios na confecção e venda de bichinhos de pano. Com o tempo, montaram uma lojinha de brinquedos... E o carrinho, que o homem utilizara durante tanto tempo para transportar panelas e outros objetos velhos, perdeu a utilidade. Ele pensou: “Jogar esse carrinho fora, não posso porque ele é quase um parente... Mas posso dar a ele uma serventia melhor: Vou pintá-lo e enchê-lo de flores para enfeitar a entrada da nossa loja!...”.

Atualmente, a loja ainda existe, e o carrinho ainda está lá, alegrando os olhos de todos que o contemplam.  




Arte Sisi Marques (8)




Arte Sisi Marques (7)




domingo, 4 de outubro de 2015

O PRÍNCIPE, A BRUXA, O REI E O MAGO





Era uma vez um príncipe jovem e belo, que não desejava se casar. Ele vivia dizendo: “Eu só me casarei no dia em que me trouxerem um sapo velho e gordo, com uma coroa na cabeça, dentro de uma gaiola.”.

Certa noite, enquanto ele dançava com uma princesa belíssima, ela perguntou: “Você jura que, se eu trouxer para você um sapo velho e gordo, com uma coroa na cabeça, dentro de uma gaiola, você se apaixona por mim no mesmo instante e se casa comigo?”. Divertindo-se com o bom humor da princesa, o príncipe sorriu antes de responder: “Sim.”.

Naquela mesma noite, depois que os convidados se retiraram, a princesa retornou ao castelo, com uma gaiola nas mãos, e disse: “Aqui está o sapo que você imaginou que nunca fosse ver na vida. A partir deste momento, o seu amor será só meu.”.

Essa seria uma bela história se fizesse parte apenas de uma coletânea de contos de fada!... Mas ela é terrível porque é real!... Aqui estou eu: o rei, transformado em um sapo!... E, dentro daquele castelo, está meu filho, casado com a bruxa que me enfeitiçou e ordenou a ele que me atirasse pela janela!... Eu daria tudo para voltar a ser quem eu era!...

“Você disse que tem um filho... Eu preciso de um marido para a minha filha... Se você consentir que o seu filho se case com a minha filha, você voltará a ser rei ainda hoje!...”.

Quem é você?!.... Como apareceu aqui tão de repente?!...

“Eu sou o mago mais poderoso que já existiu. Por que digo isso?... Porque sou capaz de desfazer qualquer feitiço.”.

Eu não tenho escolha... Quebre o encantamento que aquela bruxa colocou em mim e no meu filho. Depois, acompanhe-me até o castelo e me ajude a expulsá-la. Espere um momento... Quem é aquela mulher horrível que acabou de deixar o castelo?!...

“Eu disse a você que a minha magia desfazia qualquer feitiço!... Você voltou a ser rei, o seu filho se livrou do encantamento, e a bruxa não pode mais se esconder em sua falsa beleza!... Ela se sentiu envergonhada quando sua verdadeira aparência foi revelada e fugiu... Mas ela voltará certamente... E eu e minha filha estaremos por perto para protegê-los.”.

Obrigado. Vá buscar sua filha e me encontre em meu castelo. Até breve!...



Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias

Arte Felipe Farias (16)




quinta-feira, 1 de outubro de 2015

ESTELINA E OS SONHOS DA PRINCESA






O meu nome é Estelina, e tenho muitas histórias para contar... Hoje eu me lembrei de algo que aconteceu há muito tempo... Um príncipe pediu a minha ajuda para libertar sua amada, que estava presa na torre mais alta do castelo de um bruxo, que desejava se casar com ela.

Eu voei montada na minha vassoura mágica, mas não consegui chegar até a janela da torre, porque uma nuvem de poeira cobriu os meus olhos, e eu, em pleno dia, comecei a ver estrelas!... Naturalmente não eram estrelas!... Eu não saberia dizer o que eram!... Pareciam insetos prateados gigantes, com inúmeras pernas finíssimas!... Em outra circunstância, eu teria até apreciado a visão, mas eles voavam numa velocidade alucinante... Um deles me acertou, e eu caí em um poço fundo e estreito...

Eu só não me machuquei porque mergulhei em uma substância macia... Mas quase morri de susto quando ouvi aquela massa rosada exclamar: “Cuidado!... Eu sou os sonhos da princesa!... O bruxo me jogou neste poço fedorento!... Use sua magia para que eu possa me transformar em asas e voar até ela.”.

Felizmente eu ainda estava de posse da minha varinha!... Num piscar de olhos, duas asas brilhantes deixaram o poço e se dirigiram à torre para libertar a princesa. Eu só consegui deixar o poço meia hora depois, com a ajuda da minha fiel vassoura!... Mas ainda tive tempo de ver o bruxo, transformado em um gigante, tentar segurar as asas para impedir a fuga da princesa!...

Tolo!... Os sonhos da princesa eram mais leves do que a maldade que havia no coração dele, e ela conseguiu escapar!...

Receando que ele tentasse aprisioná-la novamente, contei com a astúcia da minha varinha para transformá-lo em pedra... Até hoje, ele está lá, parado, com os braços erguidos, e as mãos vazias...



Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias