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sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

A HISTÓRIA DE LÍNEA







Vamos mergulhar nos pensamentos de Línea para descobrirmos sua história...

Ela nem sempre foi uma fada... Ela era uma princesa que amava as flores de seus jardins. Isso parecia ser suficiente até o dia em que ela viu, entre as flores, uma fada que olhava para ela com tanta ternura que fez com que o amor despertasse em seu coração.

O jovenzinho de asas coloridas parecia compreender seus pensamentos, e ela não lhe dirigia a palavra com receio de quebrar o encanto que tornava aqueles momentos tão mágicos!...

Certo dia, ele ousou se aproximar e, sem mover os lábios, ele disse antes de fechar os olhos e beijá-la: “Línea, embora o nosso amor pareça impossível, ele se concretizará quando você se despedir desta dimensão. Eu preciso partir... Para que você se lembre de mim e continue expressando o seu amor, eu lhe concederei o dom da cura... Eu jamais me cansarei de esperá-la... Muitos anos se passarão até nos reencontrarmos... Apesar disso, o nosso amor se agigantará eternamente...”.

Línea não chorou ao vê-lo partir, porque ela acreditou em sua promessa. Os anos se passaram, e Línea, com o dom que o seu amado lhe ofertara, baniu a doença de seu reino. Foi com muita tristeza que os seus súditos, um dia, a viram serenamente fechar os olhos para este mundo.

Quando Línea despertou de um sono profundo, ela se surpreendeu ao ver o rosto do jovem a quem tanto amava!... Ela também não cabia em si de felicidade ao contemplar o seu reflexo em um lago: ela estava com a mesma aparência de quando o conhecera, e a felicidade tornou-se ainda mais completa quando ela sentiu a leveza do par de asas que permitiam que ela voasse!...

Sim, Línea havia se tornado uma fada... Em suas asas, havia a cor do céu e a cor das árvores... E, em seus cabelos, havia a cor da terra e a cor da chama que irradia a magia da cura e da paixão. 


Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias

Arte Felipe Farias (21)




sábado, 19 de dezembro de 2015

O PEDIDO QUE LAERTE FARIA AO PAPAI NOEL, SE ACREDITASSE NELE


  




Você consegue imaginar um robô que goste de brincar?!... Laerte desenhou um... Ele se chamava Arnaldo... Naturalmente Laerte também desenhou a si mesmo para que ele pudesse se divertir na companhia daquele amigo que havia saltado de sua imaginação.

Mas o desânimo apoderou-se dele quando ele pensou que jamais se sentiria tão alegre quanto ele parecia naquele desenho!... Ele levantou da cama e desistiu de terminar o desenho que se tornara um sonho inatingível!...




Antes de deixar o quarto, ele disse em voz alta: “Eu não acredito que Papai Noel exista... Mas, se ele existisse, eu pediria a ele que me deixasse sonhar com esse robozinho para que pudéssemos passar a noite toda brincando!...”.

Quando a noite chegou, o último pensamento que Laerte teve, antes de adormecer, foi a lembrança do que ele dissera que pediria ao Papai Noel, se acreditasse nele...

Naquela noite, Laerte teve um sonho inesquecível!... Ele sonhou que brincava com Arnaldo, o robozinho que ele havia desenhado!... Eles combinaram de construir um foguete... E, depois, viajaram até um planeta habitado por brinquedos. Infelizmente eles não puderam permanecer lá por muito tempo, porque o despertador tocou, e a mãe de Laerte logo entrou no quarto para lembrá-lo de que ele não poderia chegar atrasado à escola.

Mas o sonho de Laerte permaneceu tão vívido em sua imaginação que ele compreendeu que aquele planeta não era distante e estaria esperando por ele e Arnaldo sempre que eles desejassem retornar.




Arte: Felipe


Texto: Sisi & Felipe 

Arte Felipe Farias (20)








sábado, 12 de dezembro de 2015

O UNICÓRNIO DE CAUDA COLORIDA E A FADA






Na terra encantada dos unicórnios, existia um unicórnio que era diferente dos demais: sua cauda, em vez de azul, era colorida, e ele ainda possuía poderes mágicos que mantinha em segredo.

Sim, os amigos do unicórnio de cauda colorida não suspeitavam que ele voava e, muito menos, que ele sabia que zombavam dele porque, quando ele voava ou quando prestava atenção aos comentários que maldosamente teciam a seu respeito, ele estava sempre invisível.




Certo dia, ele também confiou na magia da invisibilidade, para se esconder de uma fada que visitou a terra dos unicórnios com a intenção de escolher um animal para conduzi-la em suas viagens. Ela desejava encontrar um unicórnio que voasse e que tivesse o dom da invisibilidade, e ficou decepcionada ao verificar que todos eles eram iguaizinhos e que nenhum deles possuía poderes mágicos.


Preparando-se para partir, ela comentou pensativa: “O animal que procuro não está aqui. Talvez eu o encontre na terra dos cavalos alados...”. O unicórnio de cauda colorida, que todo aquele tempo ficara quietinho prestando atenção aos delicados movimentos da fada, tornou-se visível, e ela sorriu ao compreender que era ele o animal que ela tanto procurara. 



Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias
      &
       Sisi Marques

Arte Felipe Farias (19)






Arte Sisi Marques (15)








quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

O COALA ERA UM AMIGO DE VERDADE





Em uma floresta onde os animais viviam em harmonia, havia um Urso Panda que parecia ter um sonho diferente a cada dia. Ele possuía muitos amigos que gostavam dele e o achavam muito engraçado. Mas era apenas com o seu amigo Coala que ele poderia falar sobre os seus sonhos, porque ele era o único que torcia para que os seus sonhos se realizassem.

Houve um dia em que o Urso Panda acordou com a ideia fixa de voar e imaginou que, se ele segurasse uma folhinha em cada mão e as agitasse, elas sustentariam o peso do seu corpo. Embora a ideia fosse impossível, o Coala acreditou que o seu amigo conseguiria voar.

Depois de um esforço insano para tirar os pés do chão, o próprio Urso Panda começou a rir de sua ideia absurda e, enquanto ele ria, ainda teve a oportunidade de ver o Coala com as mãos unidas, como se estivesse fazendo uma prece para que o sonho dele se realizasse. Isso fortaleceu ainda mais aquela amizade que prometia ser duradoura.




Arte: Felipe


Texto: Sisi & Felipe 

Arte Felipe Farias (18)





sábado, 14 de novembro de 2015

A URSINHA PANDA E O COALA DE PELÚCIA





Era uma vez uma Ursinha Panda e um Coala que estavam expostos na vitrine de uma loja de brinquedos, em meio a muitos outros bichinhos de pelúcia. Com o tempo, a amizade acabou se transformando em amor, e eles juraram que nunca se separariam. Mas eles se entristeciam, porque não ignoravam que aquele juramento poderia ser quebrado a qualquer momento, principalmente, com a aproximação do Natal... Muitas crianças desejariam que seus pais lhes comprassem brinquedos e, provavelmente, eles seriam todos vendidos.

No momento em que as luzes se apagavam, e a loja fechava, a magia acontecia... Uma iluminação que não poderia ser vista por olhos humanos preenchia toda a loja, e os bichinhos e os outros brinquedos ganhavam vida. E, para aqueles dois animaizinhos, só o que importava era permanecerem juntos.

Certo dia, o que eles receavam aconteceu: Uma garotinha entrou na loja com sua mãe e pediu a ela que lhe comprasse a Ursinha. E a Ursinha foi embrulhada para presente e entregue nas mãos da garotinha. O Coala se entristeceu ao ver sua amada partir... A Ursinha foi levada para um quarto e permaneceu ali entre muitos brinquedos que, para ela, nada significavam.

Dois dias depois, entrou na loja um rapaz e ele perguntou ao filho que animalzinho ele desejava, e o menino disse que gostaria de levar o Coala. O Coala também foi colocado em um quarto e, por mais que os outros brinquedos desejassem fazer amizade, ele não se animava a conversar.

Na hora do jantar, no entanto, o inesperado aconteceu: o menino, cujo pai havia comprado o Coala, e a garotinha, cuja mãe havia comprado a Ursinha, eram irmãos.  No dia em que a garotinha ganhou a Ursinha Panda, o irmãozinho dela ficou com ciúme e quis também ter um animalzinho. E o pai o levou à loja e comprou o Coala. As crianças, antes de se sentarem à mesa, colocaram seus bichinhos de pelúcia no sofá da sala para evitarem que eles se sujassem durante a refeição. Quando a Ursinha e o Coala se reencontraram, os seus olhos brilharam, e eles não cabiam em si de felicidade!...

Depois do jantar, as crianças foram para a sala assistir à televisão, e o garoto comentou: “Eu acho que a sua Ursinha gosta do meu Coala... Veja como eles estão juntinhos... Eles poderiam morar naquela floresta que ganhei de presente de aniversário.”.

A garota aprovou a ideia, e o Coala e a Ursinha puderam manter alegremente o juramento de nunca se separarem.


Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias

Arte Felipe Farias (17)




sábado, 7 de novembro de 2015

O CONTADOR DE HISTÓRIAS E A SEREIA






Era uma vez um contador de histórias que precisava atravessar um lago assombrado por uma sereia, que gostava de ouvir histórias. Ele utilizaria um barco para atravessar o lago. Mas ele não se preocupava, porque ele sabia que teria várias histórias para contar, e certamente uma delas agradaria à moça, e ela o deixaria seguir avante.

Quando ele estava atravessando o lago, o que era esperado aconteceu: A sereia postou-se à sua frente e disse: “Você só passará se me contar uma história, porque eu estou confeccionando um colar de histórias... Cada história que ouço se transforma numa conta para o meu colar... Vamos, comece a contar!...”.

No primeiro instante, o contador de histórias ficou sem palavras, porque a sereia era belíssima, e a sua mente parecia ter se esvaziado diante de tanta beleza. Mas, aos poucos, ele foi readquirindo a lucidez do pensamento e conseguiu concatenar as ideias e entregar à sereia o que ela tanto desejava: uma história...

Ela disse: “Eu poderia deixá-lo passar, porque agradou-me muitíssimo a sua história, mas ainda faltam muitas contas para o meu colar... E até passar novamente alguém que saiba contar histórias tão bem como você demorará muito. Sendo assim, você não tem permissão.”. E o contador de histórias disse: “Você não tinha intenção de me deixar passar desde o início. Então, por que mentiu?!...”.

E ela respondeu: “Eu não menti... Mas a sua história agradou-me muitíssimo, e eu quero ouvir mais histórias... Do modo que você conta as histórias, o meu colar estará pronto muito em breve...”. E o contador de histórias disse: “Está bem!... Eu conheço muitas histórias e posso passar dias contando histórias para você... É isso o que a tornaria feliz?...”. E ela respondeu: “Sim. Eu agradeceria muitíssimo. Posso trazer-lhe muitos alimentos, e você poderia se abrigar numa ilha que existe bem próximo daqui.”.

Conduzido pela sereia, o contador de histórias foi até a ilha. O lugar era paradisíaco, e ele se sentiu muito bem naquela ilha isolada. Os dias se passavam, e ele contava à sereia todas as histórias que sabia...

Ela já estava com o colar pronto, quando ele disse: “Agora eu posso partir... O seu colar está terminado.”. E ela comentou: “Eu sempre desejei ter uma pulseira com contas de histórias... Você se importaria de me contar mais algumas?...”. E ele respondeu: “Está bem!... Eu lhe contarei as histórias...”. E ele passou mais alguns dias na ilha...

A pulseira da sereia ficou pronta, e ele disse: “Agora eu posso partir...”. E ela comentou: “Eu sempre desejei ter uma tiara de contas... Se você não se importasse de me contar mais algumas histórias, ela logo ficaria pronta.”. E ele respondeu: “Está bem!... Eu lhe contarei as histórias.”.

No dia em que a tiara ficou pronta, ela disse: “Embora eu tenha me apaixonado por você, não tenho o direito de pedir-lhe que fique e continue contando suas histórias... Você pode partir.”. E, nesse momento, ele respondeu: “Eu não posso partir, porque também me apaixonei por você. E será um prazer contar-lhe histórias até o último dia da minha existência.”.



Arte Sisi Marques (14)




segunda-feira, 12 de outubro de 2015

O TRIANGAVE E A FLORESTA DE ÁRVORES TRIANGULARES







A bruxa Trianga olhava para o príncipe Celestino, como se desejasse fulminá-lo, enquanto ele dizia: “Mesmo que você transformasse todas as árvores do meu reino em triângulos... Mesmo que você reduzisse o meu próprio corpo a triângulos... Eu jamais me casaria com você, Trianga!...”.

Celestino mal acabou de pronunciar o nome da bruxa e lá estava ele, transformado em pássaro, ganhando o céu através de uma das janelas de seu castelo!... Ele ainda pôde ouvir Trianga gritar: “Vá, meu Triangave!... Vá, meu pássaro querido, assombrar com o seu canto noturno a sua floresta de árvores triangulares!...”.

Muitos meses se passaram antes que Lucimara, uma jovem princesa, entrasse na floresta e olhasse para as estranhas árvores com admiração!...




Ela murmurou: “Deve ser aqui que ele vive... Eu ouvi dizer que o lamento de seu canto faria até mesmo uma pedra chorar!... Se ele começar a cantar, eu terei que partir, porque eu não suportaria a tristeza!... Por outro lado, se ele não cantar, não conseguirei localizá-lo, e o meu pai não permitirá que eu retorne a essa floresta de árvores triangulares!... Trianga, aquela bruxa malvada!... Como pôde enfeitiçar o meu amor?!...”.




A noite chegou, e Lucimara ainda vasculhava o céu com o olhar à procura do Tringave. Um canto triste e dilacerante anunciou sua chegada. Ela tapou os ouvidos com as mãos e caiu de joelhos. Lá estava a ave pousada no topo de uma árvore, mas Lucimara mal conseguia vê-la, porque as lágrimas abundantes colocavam um oceano entre ela e o ser a quem tanto amava...

Antes de desmaiar, ela murmurou: “Você não me reconhece, Celestino, mas sou eu: Lucimara!... O que posso fazer para quebrar o encanto?!... Eu te amo e sempre te amarei!...”.

Quando Lucimara voltou a si, pensou que estivesse sonhando!... Ela sorriu ao ver o rosto de Celestino iluminado pelo amor que ele sentia por ela... As árvores não eram mais triangulares, e ela ouviu o seu grande amor dizer ternamente: “Você suportou a dor de me ver sofrer!... O seu amor foi maior do que a nossa autopiedade!... Levante-se, meu amor, e venha comigo!... Agora estamos livres para sermos felizes!...”.



Arte Sisi Marques (13)




Arte Sisi Marques (12)




Arte Sisi Marques (11)




sábado, 10 de outubro de 2015

CABEÇA NAS NUVENS E A FLORESTA DE ESTRELAS






“Cabeça nas nuvens” era o apelido de Adilson. Quando lhe perguntavam por que ele andava sempre tão distraído, ele respondia: “Eu sonho com a floresta de estrelas.”.

Talvez fosse desnecessário dizer que não havia um só amigo que não zombasse dele... Mas, para Adilson, isso não tinha a menor importância, porque ele havia lido, em um livro de contos de fada, que a floresta de estrelas seria real para quem acreditasse em sua existência!...

Certo dia, ele se deixou envolver tanto por aqueles pensamentos tecidos pela fantasia que ele imaginou ter ouvido alguém dizer: “Venha!.. No final desta rua existe uma árvore mágica... Feche os olhos e permita que o portal, que existe no tronco dessa árvore, o conduza à floresta de estrelas.”.

Adilson hesitou por um momento... Ele se perguntava se teria enlouquecido de vez... Mas ele amava a fantasia e não perderia aquela oportunidade por nada...

Ele entrou na rua deserta e sem saída... Após alguns minutos, lá estava ele tocando o tronco da árvore que, segundo a voz misteriosa, o levaria à floresta de estrelas. Confiando no que a voz dissera, ele fechou os olhos e sentiu sua mão afundar no tronco da árvore. Sem receio, ele atravessou o tronco e, quando abriu os olhos novamente, viu nuvens, que pareciam árvores, e estrelas, muitas estrelas!...




Chegara o momento da tão sonhada travessia!... Os seus pés não tocavam o chão!... Adilson estava flutuando!... E as estrelas dançavam ao seu redor!...

De repente, um pensamento passou a incomodá-lo: O que aconteceria se ele não conseguisse mais retornar?!... Aos poucos, o medo de perder o controle daquela situação tão envolvente foi se dissolvendo, e ele continuou flutuando, flutuando naquele mundo mágico e desconhecido!...

Ninguém nunca mais o viu... Muitas histórias foram contadas sobre Adilson, o Cabeça nas Nuvens!... Há quem diga que ele foi abduzido por alienígenas!... Mas eu prefiro acreditar que ele tenha encontrado a floresta de estrelas. 



Arte Sisi Marques (10)




Arte Sisi Marques (9)




terça-feira, 6 de outubro de 2015

ESTELINA E SUA VASSOURA MÁGICA





Aonde você iria se eu lhe desse a minha vassoura mágica?!... Pode começar a pensar, porque eu preciso me livrar desta vassoura que, a partir de amanhã, não me servirá mais para nada!...

O que acontecerá amanhã?!... Embora eu seja uma bruxa, acabei me tornando a rainha das fadas e, se eu quiser continuar sendo a rainha, terei que me casar com aquele príncipe charmoso que consegue atrair a atenção de todas as fadas do país das fadas.

Acontece que não sou uma fada e não estou nem um pouquinho apaixonada por ele... Talvez eu esteja só um pouquinho, mas, para me casar com o príncipe, eu teria que me separar da minha vassoura... Amanhã, depois que eu me casar, se eu me casar, ganharei asas e, como eu já disse, a minha vassoura não me servirá mais para nada!...

Asas!.. Você já viu uma bruxa com asas?!... Nem eu!... Eu ficaria ridícula se, de repente, crescesse um par de asas nas minhas costas!... Talvez seja melhor eu não me casar com o príncipe!...

O que você acha?!... Você está dizendo que eu devo me casar só porque deseja ficar com a minha vassoura!... Mas pode esquecer, porque, da minha vassoura, eu não me separarei!...

Já decidi: o príncipe e as fadas do país das fadas que procurem outra rainha!... E você que procure outra bruxa que possa lhe dar sua vassoura, porque, da minha vassoura mágica, eu jamais me separarei!!!... Adeus!...



Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O MAGO QUE SE TRANSFORMAVA EM ÁRVORE





Era uma vez um mago que se transformava em árvore, para ouvir os segredos que as pessoas contavam.

Se alguém sentasse perto dele e pensasse em voz alta ou confidenciasse algo a um amigo, no dia seguinte, o segredo deixaria de existir, e a amizade e a confiança também, porque o mago possuía um pássaro que ele enviava para espalhar a confidência aos quatro ventos.


Certo dia, o ser floral pediu a ajuda do ser estelar para terminarem de uma vez com a indiscrição do mago. Eles assumiram a forma humana e sentaram à sombra da falsa árvore para conversar...

O ser floral disse: “Precisamos ter cuidado!... Eu ouvi dizer que existe um mago que rouba segredos e os entrega a quem menos deveria. Ele semeia ódio e desconfiança.”.

O ser estelar respondeu: “Não se preocupe... Eu também ouvi dizer que ele está com os dias contados, porque existe um mago que é lenhador e possui um machado mágico. Ele jurou que um dia lançará seu machado para ceifar a árvore impostora!...”.

O ser floral e o ser estelar, ainda disfarçados de humanos, começaram a rir quando a falsa árvore desapareceu.

Dizem que ninguém nunca mais ouviu falar do mago que se transformava em árvore. Apesar disso, eu sempre evito cochichar meus segredos aos pés de uma árvore.



O HOMEM, O GAROTO E O CARRINHO




Era uma vez um homem humilde que sobrevivia recolhendo objetos que as pessoas não desejavam mais. Ele era muito educado e atencioso, e sabia como cativar as pessoas; e elas sempre se lembravam dele no momento de se desfazerem de seus pertences.

Ele era feliz?!... Provavelmente não!... Mas, sem dúvida, era sábio... Ele costumava dizer que toda infelicidade nasce da insatisfação!... E, segundo ele, até um rei poderia se tornar infeliz se fosse ganancioso ou invejoso e começasse a comparar o tamanho e a riqueza de seu reino com outros reinos maiores e mais prósperos do que o dele.

Mas nem toda a sabedoria daquele homem conseguia aliviar o peso que ele carregava diariamente... Quando ele estava muito cansado e desanimado, ele costumava pensar: “Eu até pareço um animal puxando este carrinho pesado!... Mas, se ele estivesse vazio, eu também estaria reclamando, porque eu não teria o que vender!... E, se eu tivesse um cavalo e uma carroça, também estaria reclamando porque, além de sustentar a mim e a minha família, eu teria que comprar comida para o cavalo!... Não há solução!... Eu não tenho esperança de mudar de vida!... Como este carrinho pesa!... O mundo talvez pese menos do que ele!...”.

Em uma dessas ocasiões em que o pobre homem perdia a esperança e começava a falar sozinho pelas ruas, um garoto que o observava há algum tempo disse: “Se você me contratasse, eu poderia ajudá-lo!...”. O homem exclamou: “Garoto doido!... De onde um pobre diabo como eu tiraria dinheiro para contratar um empregado?!... Essa foi boa!... Pelo menos me fez rir!... Vá brincar, garoto!...”.

E o homem ficou prestando atenção no que o garoto disse: “Você não precisa pagar a minha ajuda com dinheiro... Mas você promete que, se eu o ajudar, você me emprestará o seu carrinho para eu vender os bichos de pano que o meu pai e a minha mãe fazem?!...”.

Para a alegria do garoto, o homem respondeu: “Eu posso fazer melhor do que isso!... Sou muito bom com a linha e a agulha!... Enquanto você sai para vender os bichos, eu posso ajudar os seus pais a confeccionar mais e mais e mais bichos!... Talvez a bicharada nos traga sorte e, em vez de recolher coisas velhas, eu possa ajudar você a vender os bichos!...”.

O homem e o garoto firmaram o acordo com um esperançoso aperto de mão. Os pais do garoto aceitaram a ajuda, e os quatro prosperaram muito mais do que poderiam imaginar... Eles se tornaram sócios na confecção e venda de bichinhos de pano. Com o tempo, montaram uma lojinha de brinquedos... E o carrinho, que o homem utilizara durante tanto tempo para transportar panelas e outros objetos velhos, perdeu a utilidade. Ele pensou: “Jogar esse carrinho fora, não posso porque ele é quase um parente... Mas posso dar a ele uma serventia melhor: Vou pintá-lo e enchê-lo de flores para enfeitar a entrada da nossa loja!...”.

Atualmente, a loja ainda existe, e o carrinho ainda está lá, alegrando os olhos de todos que o contemplam.  




Arte Sisi Marques (8)




Arte Sisi Marques (7)




domingo, 4 de outubro de 2015

O PRÍNCIPE, A BRUXA, O REI E O MAGO





Era uma vez um príncipe jovem e belo, que não desejava se casar. Ele vivia dizendo: “Eu só me casarei no dia em que me trouxerem um sapo velho e gordo, com uma coroa na cabeça, dentro de uma gaiola.”.

Certa noite, enquanto ele dançava com uma princesa belíssima, ela perguntou: “Você jura que, se eu trouxer para você um sapo velho e gordo, com uma coroa na cabeça, dentro de uma gaiola, você se apaixona por mim no mesmo instante e se casa comigo?”. Divertindo-se com o bom humor da princesa, o príncipe sorriu antes de responder: “Sim.”.

Naquela mesma noite, depois que os convidados se retiraram, a princesa retornou ao castelo, com uma gaiola nas mãos, e disse: “Aqui está o sapo que você imaginou que nunca fosse ver na vida. A partir deste momento, o seu amor será só meu.”.

Essa seria uma bela história se fizesse parte apenas de uma coletânea de contos de fada!... Mas ela é terrível porque é real!... Aqui estou eu: o rei, transformado em um sapo!... E, dentro daquele castelo, está meu filho, casado com a bruxa que me enfeitiçou e ordenou a ele que me atirasse pela janela!... Eu daria tudo para voltar a ser quem eu era!...

“Você disse que tem um filho... Eu preciso de um marido para a minha filha... Se você consentir que o seu filho se case com a minha filha, você voltará a ser rei ainda hoje!...”.

Quem é você?!.... Como apareceu aqui tão de repente?!...

“Eu sou o mago mais poderoso que já existiu. Por que digo isso?... Porque sou capaz de desfazer qualquer feitiço.”.

Eu não tenho escolha... Quebre o encantamento que aquela bruxa colocou em mim e no meu filho. Depois, acompanhe-me até o castelo e me ajude a expulsá-la. Espere um momento... Quem é aquela mulher horrível que acabou de deixar o castelo?!...

“Eu disse a você que a minha magia desfazia qualquer feitiço!... Você voltou a ser rei, o seu filho se livrou do encantamento, e a bruxa não pode mais se esconder em sua falsa beleza!... Ela se sentiu envergonhada quando sua verdadeira aparência foi revelada e fugiu... Mas ela voltará certamente... E eu e minha filha estaremos por perto para protegê-los.”.

Obrigado. Vá buscar sua filha e me encontre em meu castelo. Até breve!...



Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias

Arte Felipe Farias (16)




quinta-feira, 1 de outubro de 2015

ESTELINA E OS SONHOS DA PRINCESA






O meu nome é Estelina, e tenho muitas histórias para contar... Hoje eu me lembrei de algo que aconteceu há muito tempo... Um príncipe pediu a minha ajuda para libertar sua amada, que estava presa na torre mais alta do castelo de um bruxo, que desejava se casar com ela.

Eu voei montada na minha vassoura mágica, mas não consegui chegar até a janela da torre, porque uma nuvem de poeira cobriu os meus olhos, e eu, em pleno dia, comecei a ver estrelas!... Naturalmente não eram estrelas!... Eu não saberia dizer o que eram!... Pareciam insetos prateados gigantes, com inúmeras pernas finíssimas!... Em outra circunstância, eu teria até apreciado a visão, mas eles voavam numa velocidade alucinante... Um deles me acertou, e eu caí em um poço fundo e estreito...

Eu só não me machuquei porque mergulhei em uma substância macia... Mas quase morri de susto quando ouvi aquela massa rosada exclamar: “Cuidado!... Eu sou os sonhos da princesa!... O bruxo me jogou neste poço fedorento!... Use sua magia para que eu possa me transformar em asas e voar até ela.”.

Felizmente eu ainda estava de posse da minha varinha!... Num piscar de olhos, duas asas brilhantes deixaram o poço e se dirigiram à torre para libertar a princesa. Eu só consegui deixar o poço meia hora depois, com a ajuda da minha fiel vassoura!... Mas ainda tive tempo de ver o bruxo, transformado em um gigante, tentar segurar as asas para impedir a fuga da princesa!...

Tolo!... Os sonhos da princesa eram mais leves do que a maldade que havia no coração dele, e ela conseguiu escapar!...

Receando que ele tentasse aprisioná-la novamente, contei com a astúcia da minha varinha para transformá-lo em pedra... Até hoje, ele está lá, parado, com os braços erguidos, e as mãos vazias...



Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

JOAQUIM E SEU ESTRANHO AMIGO




Joaquim, sentado na cadeira, contemplava as cascas de melancia abandonadas sobre a mesa da cozinha...

Ele sentiria saudade do amigo que sempre deixava uma moeda de ouro quando retirava as cascas. Agora, elas permaneciam ali... E, ao lado delas, havia um bilhete que dizia: “Joaquim, sou muito grato a você pelas cascas e também por sua amizade. Mas tudo o que começa, um dia, tem que acabar, e o término da minha permanência nesta dimensão também estava previsto. Eu teria ido embora sem me despedir porque odeio despedidas!... Mas a minha distração obrigou-me a escrever-lhe este bilhete para pedir-lhe um favor: Faça um buraco no chão da sua cozinha e cave um túnel até a minha árvore, para libertar o gato que ficou preso no momento em que fiz desaparecer a porta que havia no tronco da árvore. Você saberá em que direção cavar, porque haverá uma bola de luz à sua frente lhe indicando o caminho. A porta, na árvore, conduzia a uma escada que dava acesso aos cômodos subterrâneos. O gato ficará bem por alguns dias porque há ar e comida... Mas eu não terei paz enquanto ele não for libertado.”.

Enquanto Joaquim lia e relia o bilhete, ele pensava: “Era só o que me faltava: ter que cavar um túnel para libertar um gato!... Mas, apesar de ele ser meio esquisito,  eu admirava aquele homem baixinho de orelhas pontudas e estou disposto a fazer o que ele me pediu.”.

Na manhã seguinte, Joaquim levantou cedo e tomou um café reforçado. Depois preparou dois sanduíches, embalou algumas fatias de melancia e colocou-os dentro de uma cesta, ao lado de uma garrafa de água. Ele saiu no quintal e foi até o galpão apanhar a pá e a enxada. Ele retornou à cozinha, quebrou um pedaço do piso e começou a cavar o túnel, guiado por uma bola de luz que parecia ter vida própria.

Joaquim passou vários dias cavando e teve que retornar muitas vezes à sua casa... Mas, apesar do cansaço, ele não desistiu e continuou cavando até, finalmente, chegar à casa subterrânea que o seu amigo ocupara.

Decepcionado por não ter encontrado o gato, ele sentou em uma poltrona e reparou que, do lado direito, sobre uma mesinha, havia uma flauta e, sob a flauta, havia uma folha de papel cuidadosamente dobrada.

Ele levantou a flauta e apanhou o papel imaginando tratar-se de um bilhete que o estranho homem baixinho, de orelhas pontudas, deixara. Ele não se enganou... O bilhete dizia: “Você não cavou um túnel para encontrar um gato que nunca existiu!... Eu inventei essa história porque precisava que você cavasse por algum motivo que não fosse a sede de riquezas. Todo o ouro que acumulei agora é seu, e você o encontrará dentro de um baú que guardo em meu quarto. Esse baú não tem fundo... Isso significa que o ouro dentro dele jamais se extinguirá... Quanto às cascas de melancia, eu nunca precisei delas e sempre as enterrei após retirá-las da sua casa. Era o interior do seu coração que eu precisava conhecer antes de entregar-lhe o meu tesouro. Seja generoso e use as moedas com humildade, modéstia e sabedoria.”.

Agradecido, Joaquim seguiu a recomendação do amigo. Ele se casou e beneficiou muitas pessoas com sua fortuna. Mas, nem mesmo para a sua amada esposa, ele contou que possuía uma fonte inesgotável de riquezas.



Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias



Querido Leitor,

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