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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

JOAQUIM E SEU ESTRANHO AMIGO




Joaquim, sentado na cadeira, contemplava as cascas de melancia abandonadas sobre a mesa da cozinha...

Ele sentiria saudade do amigo que sempre deixava uma moeda de ouro quando retirava as cascas. Agora, elas permaneciam ali... E, ao lado delas, havia um bilhete que dizia: “Joaquim, sou muito grato a você pelas cascas e também por sua amizade. Mas tudo o que começa, um dia, tem que acabar, e o término da minha permanência nesta dimensão também estava previsto. Eu teria ido embora sem me despedir porque odeio despedidas!... Mas a minha distração obrigou-me a escrever-lhe este bilhete para pedir-lhe um favor: Faça um buraco no chão da sua cozinha e cave um túnel até a minha árvore, para libertar o gato que ficou preso no momento em que fiz desaparecer a porta que havia no tronco da árvore. Você saberá em que direção cavar, porque haverá uma bola de luz à sua frente lhe indicando o caminho. A porta, na árvore, conduzia a uma escada que dava acesso aos cômodos subterrâneos. O gato ficará bem por alguns dias porque há ar e comida... Mas eu não terei paz enquanto ele não for libertado.”.

Enquanto Joaquim lia e relia o bilhete, ele pensava: “Era só o que me faltava: ter que cavar um túnel para libertar um gato!... Mas, apesar de ele ser meio esquisito,  eu admirava aquele homem baixinho de orelhas pontudas e estou disposto a fazer o que ele me pediu.”.

Na manhã seguinte, Joaquim levantou cedo e tomou um café reforçado. Depois preparou dois sanduíches, embalou algumas fatias de melancia e colocou-os dentro de uma cesta, ao lado de uma garrafa de água. Ele saiu no quintal e foi até o galpão apanhar a pá e a enxada. Ele retornou à cozinha, quebrou um pedaço do piso e começou a cavar o túnel, guiado por uma bola de luz que parecia ter vida própria.

Joaquim passou vários dias cavando e teve que retornar muitas vezes à sua casa... Mas, apesar do cansaço, ele não desistiu e continuou cavando até, finalmente, chegar à casa subterrânea que o seu amigo ocupara.

Decepcionado por não ter encontrado o gato, ele sentou em uma poltrona e reparou que, do lado direito, sobre uma mesinha, havia uma flauta e, sob a flauta, havia uma folha de papel cuidadosamente dobrada.

Ele levantou a flauta e apanhou o papel imaginando tratar-se de um bilhete que o estranho homem baixinho, de orelhas pontudas, deixara. Ele não se enganou... O bilhete dizia: “Você não cavou um túnel para encontrar um gato que nunca existiu!... Eu inventei essa história porque precisava que você cavasse por algum motivo que não fosse a sede de riquezas. Todo o ouro que acumulei agora é seu, e você o encontrará dentro de um baú que guardo em meu quarto. Esse baú não tem fundo... Isso significa que o ouro dentro dele jamais se extinguirá... Quanto às cascas de melancia, eu nunca precisei delas e sempre as enterrei após retirá-las da sua casa. Era o interior do seu coração que eu precisava conhecer antes de entregar-lhe o meu tesouro. Seja generoso e use as moedas com humildade, modéstia e sabedoria.”.

Agradecido, Joaquim seguiu a recomendação do amigo. Ele se casou e beneficiou muitas pessoas com sua fortuna. Mas, nem mesmo para a sua amada esposa, ele contou que possuía uma fonte inesgotável de riquezas.



Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias



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sexta-feira, 18 de setembro de 2015

FOLHÍNEA, ESTELINA, ESPERANÇA, BRUZÉLIA E TOICINHO





O porquinho Toicinho nem piscava enquanto Bruzélia dizia: “Dessa vez, eu agarro o meu príncipe!... Para isso, eu precisarei de asas de fadas... Ouviu bem, Toicinho?!... Eu não quero asas de borboletas... Capture pelo menos seis fadas e arranque as asas delas. Preste muita atenção: Cuidado com a fada de asas de folhas... Eu já ouvi dizer que existe sempre uma delas protegendo as fadas com asas de borboleta.”.
















Enquanto a bruxa Bruzélia instruía o seu assistente; na floresta, a fada Esperança dizia a Folhínea: “Você precisa ter paciência com as outras fadas, porque elas não a querem mal...”. Folhínea murmurou magoada: “Elas me desprezam, porque não sou tão bela quanto elas... E também não sou bela e delicada como você!... Mas não foi para ficar reclamando que pedi para o vento trazê-la aqui... Estelina veio visitar-me há pouco... Ela consegue ver o futuro e disse que uma bruxa, que possui um porco alado, está tramando capturar as fadas para roubar suas asas. Ela deve ter ouvido falar sobre o creme de beleza que é feito com o pó de asas trituradas.”.


Esperança exclamou: “Não podemos permitir que isso aconteça!... Se essa bruxa tem um porquinho alado, certamente pedirá a ele para vir roubar as asas!... Você precisará pedir ao vento que agite as folhas das árvores para que elas caiam e cubram as fadas!...”.

Folhínea afirmou: “É aí que está o problema: aquela bruxa tem mais controle sobre os ventos do que eu... Dessa vez, não há esperança!... Desculpe-me... Eu sei que não deveria ter dito isso, porque você é a fada que simboliza a esperança... Mas é a mais pura verdade!... Não poderemos impedir que as fadas sejam capturadas, e suas asas sejam arrancadas e trituradas para servirem de cosmético àquela bruxa, que  não nos deixará em paz enquanto não conseguir se casar com um príncipe!...”.

Esperança aconselhou: “Não se desespere, porque juntas teremos mais poderes do que aquela bruxa. Ouça o que faremos: Uniremos nossa magia e a magia das outras fadas para transformarmos aquele porquinho alado em um príncipe. Se é um príncipe que aquela bruxa quer, um príncipe ela terá.”.

Folhínea exclamou: “Isso é maldade!... Não podemos fazer isso ao pobre animal!”. Esperança perguntou: “O que você prefere: salvar o porquinho, que já deve ter ajudado aquela bruxa a praticar muitas malvadezas, ou salvar as fadas?!...”.

Folhínea afirmou: “Você tem razão: providenciaremos para que esse porco alado beba um pouco do veneno que ajudou aquela bruxa a espalhar.”.

E assim foi feito... As fadas se reuniram, teceram uma rede e, do alto de uma árvore, ficaram aguardando a chegada de Toicinho. Quando viram que ele se aproximava, elas jogaram a rede sobre suas asas... Ele se atrapalhou no voo e caiu. Elas o amarraram e o colocaram dentro de um círculo de pedras encantadas. Elas dançaram ao redor das pedras enquanto pronunciavam palavras mágicas...

Aos poucos, Toicinho foi levantando o corpo e conseguiu se equilibrar nas patas traseiras... Ele cresceu, e suas feições foram se modificando até que as fadas concordaram entre si que ele havia se transformado em um homem muito atraente. Ele parecia hipnotizado quando ouviu uma das fadas ordenar: “Volte para a sua amada bruxa e case-se com ela!... Nunca mais coloque os pés nesta floresta!... Agora suma porque já nos fez perder muito do nosso tempo precioso!...”.

Toicinho, isto é, o príncipe obedeceu e nunca mais as fadas tiveram que se preocupar com a bruxa Bruzélia. Naturalmente havia outras bruxas interessadas em fazer o creme com o pó de suas asas... Mas, de Bruzélia, elas nunca mais ouviram falar.


Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

A BRUXA BRUZÉLIA E O MENINO MENTIROSO






Toicinho, venha me ajudar a terminar essa poção!... Toicinho, venha logo, porco preguiçoso!... Pensa que tenho o dia todo?!... Toicinho!... Toicinho?!... Onde está você, meu porquinho?!...

Ventos, ventos, ouçam o meu chamado... Agitem a água do caldeirão e me mostrem onde está aquele porquinho levado!...

Ei, garoto!... O que pensa que está fazendo?!... Esse porquinho é meu!... Solte-o para que ele possa voltar para casa!... Pare de olhar para os lados!... Eu estou aqui em cima!... Nessa nuvem sobre a sua cabeça!... Eu posso vê-lo através da água fervente do meu caldeirão!...

“Quem é você?!... Uma bruxa?!... Fique sabendo que esse porquinho é meu. O meu pai o comprou no mercado... Ele se chama Algodão-doce. Se você quer um porquinho, compre um para você!...”.

Garoto atrevido!... Esse é o Toicinho!... Solte-o já!... Vamos, devolva logo o meu porquinho!...

“Seu porquinho!!!... Ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah!!!... Este porquinho será seu no dia em que você pagar por ele!...”

Quanto você quer?!...

“Eu não quero dinheiro... Quero a sua varinha mágica!... Você tem uma varinha mágica?!... Tem ou não?!...”.

Tenho. Fique bem embaixo da nuvem para que eu possa jogá-la para você!... Concentre-se!... Não tire os olhos da nuvem porque, se você não conseguir segurar a varinha, ela cairá no chão e se quebrará em mil pedaços e fará uma cratera tão grande que engolirá você, sua casa e o meu porquinho. Cuidado, garoto!... Segure a varinha!...

Ventos, ventos, agitem ainda mais a água do caldeirão, para que esse menino possa receber uma lição!... Ele mente quando diz que o meu porquinho é dele!... Se mente sobre isso, deve mentir sobre muitas outras coisas!... Que ele se transforme em um sapo toda a vez que mentir!... E ele só voltará a ser menino quando começar a dançar e rir!... Ah, ah, ah, ah, ah!!!... Estou começando a me divertir!...

“Vamos, bruxa, se quer o meu porquinho, jogue logo a varinha!...”.

O porquinho não é seu!... É meu!... Fui eu que dei, para ele, aquelas asinhas!...

“Mentirosa!... Eu sou um grande feiticeiro!... Quem deu as asas para ele fui eu!... Fui eu!... Fui eu!... O que está acontecendo?!... Eu estou encolhendo!... Sou um sapo!...  Você me transformou em um sapo!... O porco é seu!... Eu só estava brincando... Quero voltar a ser menino!...”.




Menino você será quando a noite chegar, e você começar a rir e dançar...

Fuja, fuja, Toicinho!...Volte para mim, meu porquinho!...

Finalmente aqui está você!... Não se preocupe com aquele garoto malvado!... É só ele parar de mentir que o feitiço será quebrado.




 Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias
      &
       Sisi Marques


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Arte Sisi Marques (6)



quarta-feira, 9 de setembro de 2015

O ARTISTA E SEU DESENHO


(RELEITURA)



O que leva alguém a escolher ficar sozinho diante de uma folha em branco?!... Aparentemente não existe nada ali!... Mas a imaginação de quem contempla a folha consegue ver além das aparências!... Se não houver a confiança de que a mão, segurando apenas um lápis, conseguirá seguir o voo da imaginação, a folha continuará em branco. 

Eu vi a releitura do desenho de um anjo, e os meus olhos começaram a percorrer os mesmos caminhos que a mão do artista percorreu na tentativa de refazer o percurso da imaginação do criador do desenho.  Aquele anjo só começou a habitar a minha imaginação porque o artista se atreveu a confiar em sua capacidade de reproduzir algo que o fascinou.

Confesso que também fiquei encantada quando um portal se abriu, e o desenho do anjo ganhou vida, e eu comecei a me perguntar: Quem é ele?!... Um anjo ou um homem que plasmou suas asas na busca da excelência de seu ser?!... Ou será ele a tentativa do artista de registrar o seu próprio voo no momento mágico da realização?!... Talvez, para o desenhista, ele não seja nem uma coisa nem outra... Talvez ele seja apenas um desenho que o tenha ajudado a passar o tempo...

Aqui estou eu tentando explicar através de palavras o que, para o artista, não necessita de explicação. Isso não significa que ele não tenha consideração pelo seu desenho... Na verdade, é exatamente o oposto: ele o ama tanto que se recusou a colocar-lhe um rótulo ou espremê-lo para que ele coubesse em uma definição estreita.

Sem que o desenho perca a sua própria integridade, ele tem a liberdade de ser o que as pessoas imaginarem que ele deva ser... Porque as várias interpretações que ele receber dos olhos que o observarem não modificarão a sua essência.



Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias




Arte Felipe Farias (15) - (RELEITURA)


(RELEITURA)

terça-feira, 8 de setembro de 2015

A FADA ESPERANÇA E A REALIZAÇÃO DOS SONHOS





O meu nome é Esperança, e eu sempre estou presente na realização dos sonhos. Uma das minhas funções é distribuir os dons às crianças. Embora essa seja uma tarefa fácil e prazerosa, ocasionalmente podem surgir alguns problemas durante as entregas.

Certa vez, eu estava em pleno voo, segurando a cestinha com os copinhos rotulados, quando uma tempestade desabou de repente. Minhas asas ficaram ensopadas, perdi o equilíbrio, soltei a cestinha sem querer, e o vento carregou-a e derrubou-a no chão, espalhando as sementes.

De que adiantavam os rótulos com os nomes das crianças a quem cada semente deveria ser entregue, se as sementes já não estavam mais em seus respectivos lugares?!... Elas pareciam todas iguais, e eu jamais conseguiria descobrir a que dom correspondiam!... Só me restava colocar as sementes nos copinhos aleatoriamente.

Quando cheguei à maternidade, coloquei uma semente na boca de cada bebezinho!... Essa é sempre a melhor parte: Ao me ver voando, a criança sorri, e eu aproveito a ocasião para colocar, em sua boquinha, a semente que começará a germinar para dar origem às suas asas invisíveis. O único problema era a troca das sementes... Cada um dos bebês possuía uma vocação latente, que talvez não correspondesse com a habilidade em forma de semente que ele estava recebendo.

Eu sou uma fada muito ocupada e não disponho de tempo para ficar contando histórias... Mas, já que comecei, mencionarei apenas um caso em que a troca ficou evidente...

Jorge e José, dois irmãos gêmeos, em vez de agradecerem o dom que haviam recebido, ficavam um invejando o trabalho do outro, e suas asas permaneciam encolhidas.

Jorge desenhava muito bem e vivia reclamando que não possuía o dom das palavras. José, por sua vez, escrevia textos que, para ele, não faziam o menor sentido... Ele daria tudo para desenhar como Jorge. Os dois não conseguiam ser amigos, porque um invejava o dom do outro. O desânimo e a insatisfação frequentemente os abraçavam.

Eles teriam permanecido eternos rivais, se Jorge não tivesse dito: “Você ama desenhar, e eu amo escrever. Mas, por ironia do destino, eu desenho melhor do que você, e você escreve melhor do que eu. Poderíamos tentar nos ajudar mutuamente... Somos gêmeos idênticos, e as pessoas nunca sabem se estão falando comigo ou com você. Trocaríamos de lugar: Você frequentaria o meu curso de Desenho, e eu faria os seus trabalhos de Redação.”.

José exclamou: “Isso não dará certo, porque eu desenho muito mal, e você comete erros imperdoáveis de ortografia e concordância!... Ambos seremos reprovados!...”.

Jorge insistiu: “Não, se nos ajudarmos mutuamente: Eu oriento você nos desenhos, e você revisa os meus textos.”.

José concordou, e a rivalidade que havia entre os dois desapareceu para dar lugar à cooperação e à amizade sincera. Eles conseguiram conquistar e aprimorar o dom que tanto amavam. Jorge começou a se expressar através de palavras que fluíam deliciosamente... E José passou a se abster de palavras porque, para ele, a linguagem do Desenho era mais concisa e atraente.

Eles não sentiam o tempo passar quando se entregavam à fascinante descoberta do que eram capazes de realizar... Suas asas, pouco a pouco, foram se fortalecendo, e permitiram que eles voassem guiados por seus sonhos.

Jorge e José tiveram a felicidade de descobrir que a realização dos sonhos não reside no futuro e sim naqueles momentos em que a ação e o coração vibram em uníssono, e o tempo deixa de existir.



Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias




Querido Leitor,

Leia também a história: COMO GANHEI MINHAS ASAS



sábado, 5 de setembro de 2015

ALOÍSIO, CLÓVIS E LUANA






Clóvis, um dos habitantes do Bosque das Margaridas e melhor amigo de Aloísio, dizia: “Você é um grande mal-agradecido!... Não se esqueça de que deve a sua prosperidade a nós!... Embora sejamos pequenos, contribuímos de forma decisiva para que você se tornasse o comerciante próspero que é hoje!... Você não pode deixar de vir aqui porque, além dos tomates que você nos traz diariamente, gostamos muito da sua amizade!...”.

Aloísio disse: “Não me entenda mal, mas a vida pede mudanças... E eu não estou feliz!... Preciso dar outro rumo à minha vida... Você compreende?...”.

Clóvis respondeu: “Não. Pensamos que você fosse diferente dos outros humanos, mas estávamos enganados. Pode ir!... Não há nada que o prenda aqui.”.

Após esboçar um sorriso triste, Aloísio exclamou: “É aí que você se engana!... Eu estou apaixonado por Luana, e receio que ela também goste um pouco de mim!... Seremos dois a sofrer, se eu não partir... Eu daria tudo para poder viver, naquele cogumelo, ao lado dela!...”.

Clóvis prestou atenção ao que o amigo dissera e preferiu guardar para si os comentários. Ele se ausentou por alguns minutos e, com a ajuda de mais dois homenzinhos, trouxe um grande barril de vinho e disse: “Está certo!... Você poderá nos esquecer e deixar de vir aqui nos trazer os tomates, mas antes beba do nosso melhor vinho!... Ele foi guardado durante muito tempo para uma ocasião especial como esta.”.

Aloísio sorriu e agradeceu ao amigo pela generosidade. Mas, quando ele ingeriu a última gota do vinho, que Clóvis e os homenzinhos aos poucos iam despejando em seu copo, ele exclamou: “Você me envenenou!... Eu me sinto atordoado, e algo muito terrível está acontecendo dentro de mim!... O que havia dentro da bebida?!... Veneno para ratos?!... Eu me tornei um ser desprezível apenas porque não suportaria ver Luana casar-se com alguém do tamanho dela?!... Eu amo Luana e sei que, de algum modo, ela também me ama!... Eu não pretendia traí-los... Eu só desejava me afastar para tentar esquecê-la...”.

Aloísio desmaiou, e os homenzinhos o levaram para dentro de um dos cogumelos. Horas depois, quando ele despertou, viu Clóvis e Luana sentados em um sofá em frente à cama. Ele levantou e se sentia zonzo... Não porque ainda estivesse sob o efeito do álcool, mas porque estava embriagado de paixão.


Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias




Querido Leitor,


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

VOCÊ, A BRUXA BRUZÉLIA E A CASA DE VIDRO





O que você faria se hoje fosse o último dia da sua vida?!... Imagine a seguinte situação: o barco que você estava remando bateu em uma pedra, furou e afundou. Felizmente você conseguiu se salvar e nadou até uma ilha deserta...

Deserta?!... Não!... A ilha era povoada por seres mágicos, e você, exausto e faminto, foi procurar abrigo em uma casa de vidro que havia na floresta.

Naquela casa, nada era o que parecia!!!... O que acontecia dentro não era o que se via fora, mas você se deixou levar pelas aparências e acreditou que o lugar era seguro.

Você bateu, a porta abriu, e uma mão gigante puxou você para dentro. Você entrou, e a mão gigante saiu!... Ela foi mais esperta do que você: Para que ela pudesse sair, alguém teria que entrar, e você agora terá que ocupar o vazio que ela deixou.

Quem entra nessa casa compreende que ela não é de vidro... Apenas o que existe dentro dela pode ser visto... E não há nada para se ver além de paredes vazias... Paredes sem portas e sem janelas... A única porta que existe é a de entrada... E ela só abrirá se alguém bater do lado de fora...

Todas as manhãs, uma voz rouca pergunta: “O que você faria se hoje fosse o último dia da sua vida?!...”. Você olha para cima, para baixo, ao seu redor, e não vê ninguém... Mas, todas as manhãs, alguém pergunta: “O que você faria se hoje fosse o último dia da sua vida?!...”.

De repente, a porta abre!... Você ouve uma gargalhada, vê um porco voando... E, logo atrás dele, uma bruxa, que pensa que você é um príncipe, entra e caminha em sua direção... Ela pergunta: “Quer que eu o liberte?!... Case-se comigo!... Eu me tornarei bela, se puder colocar uma mecha do seu cabelo na minha poção!...”.

Você hesita... Não consegue saber o que é pior: permanecer na casa, ou se casar com a bruxa Bruzélia, que chama o seu porquinho de estimação de Toicinho!...

Mas você não tem escolha!... A bruxa lança sobre você um feitiço que o imobiliza... E Toicinho, com um sorriso maldoso, se aproxima, segurando uma tesoura, e corta uma mecha do seu cabelo!...

Bruzélia o liberta do feitiço só para vê-lo tremer de medo quando ela faz o caldeirão aparecer do nada e diz:Ventos, ventos, meu nome é Bruzélia!... Mexam a poção que me tornará bela!... Toicinho, traga-me o último ingrediente da poção: uma mecha do cabelo do meu príncipe!... E afaste-se para não se machucar com a explosão!...”. 

Nós não ouvimos explosão nenhuma... E  Bruzélia e o porquinho também não!... Apenas a voz de Bruzélia ecoa nos quatro cantos da casa: “Que estranho!... Não houve nenhuma explosão!... Traga-me o espelho!... Maldição!... A minha aparência não mudou!... Seu impostor!... Você não é um príncipe!... E, se não é um príncipe, não serve nem mesmo para lavar o meu caldeirão!...”. 

Você teve sorte: A bruxa desapareceu e levou o porquinho consigo... Mas você ainda está dentro da casa... E, todas as manhãs, ouvirá sempre a mesma pergunta: “O que você faria se hoje fosse o último dia da sua vida?!...”.



Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias



Querido Leitor,

Leia também a história: A Bruxa Bruzélia e o Porquinho Toicinho


O SONHO DA ELEFANTA DORABELA





Elefantes não têm graça e, muito menos, leveza. O meu nome é Dorabela, e todos me chamam de Dora. Eu gostaria que me chamassem de Bela!...

Eu trabalho no circo e tenho um sonho: Em vez de servir de montaria para a bela bailarina acrobata, eu gostaria de ser a bela bailarina. Naturalmente ninguém precisaria servir de montaria para mim, porque não existe ninguém capaz de suportar o peso de uma elefanta gorda e pesada como eu!...

Estou chorando!... Estou chorando sim, e isso é problema meu!... Quem se importa?!... Um rato?!... Será que foi um rato que correu para se esconder atrás da cortina?!...

“Não, elefanta burra!... Eu não sou um rato!... Posso ser pequeno e magricela, mas não sou um rato!... Não está vendo?!... Sou um duende e não corri para me esconder atrás da cortina!... Eu estava procurando algo que perdi, mas você me distraiu, e eu acabei esquecendo o que era... Jamais conseguirei me lembrar!... Que cheiro horrível é esse?!... Sinto cheiro de tristeza e de lágrimas também!... Que horror!... Lágrimas de elefantes ainda são mais fedorentas do que lágrimas de crocodilos!... Eu não suporto o cheiro da tristeza!... Diga logo o que está havendo para que possamos eliminá-la.”.

Eu quero ser bailarina!...

“Comece a dançar, e o problema estará resolvido!...”.

Você não compreende... Os meus movimentos não têm graça e, muito menos, leveza!... Sou pesada, gorda e feia!... Se eu me atrevesse a dançar, todos ririam de mim!... Sou desajeitada e só sirvo para conduzir a formosa bailarina acrobata!...

“Já serve para alguma coisa!... Mas o pior é que o cheiro continua e está cada vez mais forte!... Feche os olhos!... Vamos, não questione!... Apenas obedeça!...”.

Eu estou me sentindo mais magra e menos pesada!... Olhe só para mim!... Estou vestida de bailarina!... Vermelho é a minha cor favorita!... Preciso de um espelho!... Quem é você?... Não, não desapareça!... Você precisa me ensinar a dançar!...

“Não. Isso você só aprenderá praticando!... Acredite na sua capacidade e persista!... Ah, aqui está o que eu perdi: o meu grão de mostarda!... Eu não poderia ir embora sem ele... Adeus, Bela!...”.

Adeus, Amigo!... E obrigada!...




Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias

Arte Felipe Farias (14)




quarta-feira, 2 de setembro de 2015

O GATINHO FOFURA E A BRUXA ESTELINA






Quem olha para essa foto não imagina que essa fofura à direita não nasceu como os outros gatos. Essa fofura!... Gostei, não é à toa que o meu nome é Fofura!...

E essa formosura, ao meu lado na foto, se chama Lia. Ela era a gatinha da vizinha de Sofia... Eu usei o verbo no passado, porque agora Lia é livre... Ela e eu estamos apaixonados e fugimos.

A história poderia terminar aqui se o nosso problema se resumisse apenas na vizinha de Sofia, que até já desistiu de encontrar sua gatinha... Lia e eu somos espertos e conseguimos nos esconder dela, mas Sofia ficará em sérios apuros, se eu não voltar para casa...

Como eu já disse, sou um gato diferente... Foi a varinha mágica de Estelina que me trouxe para esta realidade... Estelina é muito séria e desejava ter um amigo que a afastasse da solidão. Eu, por outro lado, ainda conhecia muito pouco da vida e só queria ficar brincando... Conclusão: fui um fracasso como amigo, e Estelina acabou me entregando temporariamente aos cuidados de Sofia, que tem alergia a pelos de animais de verdade. Agora Estelina me quer de volta e disse a Sofia que virá me buscar no final de semana. Foi por esse motivo que Lia e eu fugimos... Mas ninguém consegue se esconder de uma bruxa, especialmente de Estelina.

Eu não sei o que fazer... Me preocupar, eu não vou não!... Enquanto aguardo a solução, é melhor eu cantar uma canção:

Miau, miau, miau...
Amor de gato é igual
a amor de gente!... 
Miau, miau, miau...
Coração de gato também
sente paixão!...
Miau, miau, miau...
Amor de gato é igual
a amor de gente!...
Miau, miau, miau...

“Eu conheço muito bem esse miado!... Aqui está você, gato fujão!... Que foto é essa?... Deixe-me ver!... Essa gatinha ao seu lado deve ser a gata da vizinha de Sofia!... Sofia contou-me tudo!... Ela me disse inclusive que, se eu esperasse até o final de semana, nunca mais veria você!...”

Miau, miau, miau...
Isso é jeito de aparecer, Estelina?!... As pessoas poderiam vê-la... Eu quero ser independente!... Chega de Sofia e de Estelina!... Uma tem alergia e não pode aceitar Lia, e a outra não tem paciência!...
Miau, miau, miau...

“Você quer a sua independência, e eu quero sossego!... Pode ir embora com a sua gatinha!... Mas e Sofia?!... Você só consegue pensar em si mesmo?!...”

Miau, miau, miau...
Egoísta eu?!... Foi você quem decidiu me separar de Sofia!... Crie outro bichinho para ela com sua varinha!... Agora o meu coração pertence a Lia.
Miau, miau, miau...

“E onde está essa gatinha que roubou o seu coração?”

Miau, miau, miau...
Ela foi se despedir das amigas...
Miau, miau, miau...

“Se você quiser voltar, Lia poderá vir conosco. O que você me diz?!...”

Miau, miau, miau...
Eu quero ser independente!... Quero levar minha vida como se fosse gente!... Adeus Estelina!...
Miau, miau, miau...

“Adeus, Fofura!... Cuide-se e seja feliz!...”

Miau, miau, miau...












Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias



Querido Leitor,

Leia também a história: Sofia e o Gatinho Fofura .