Joaquim, sentado na
cadeira, contemplava as cascas de melancia abandonadas sobre a mesa da
cozinha...
Ele sentiria saudade do
amigo que sempre deixava uma moeda de ouro quando retirava as cascas. Agora, elas
permaneciam ali... E, ao lado delas, havia um bilhete que dizia: “Joaquim, sou
muito grato a você pelas cascas e também por sua amizade. Mas tudo o que começa,
um dia, tem que acabar, e o término da minha permanência nesta dimensão também
estava previsto. Eu teria ido embora sem me despedir porque odeio
despedidas!... Mas a minha distração obrigou-me a escrever-lhe este bilhete
para pedir-lhe um favor: Faça um buraco no chão da sua cozinha e cave um túnel
até a minha árvore, para libertar o gato que ficou preso no momento em que fiz
desaparecer a porta que havia no tronco da árvore. Você saberá em que direção
cavar, porque haverá uma bola de luz à sua frente lhe indicando o caminho. A
porta, na árvore, conduzia a uma escada que dava acesso aos cômodos
subterrâneos. O gato ficará bem por alguns dias porque há ar e comida... Mas eu
não terei paz enquanto ele não for libertado.”.
Enquanto Joaquim lia e
relia o bilhete, ele pensava: “Era só o que me faltava: ter que cavar um túnel
para libertar um gato!... Mas, apesar de ele ser meio esquisito, eu admirava aquele homem baixinho de orelhas
pontudas e estou disposto a fazer o que ele me pediu.”.
Na manhã seguinte,
Joaquim levantou cedo e tomou um café reforçado. Depois preparou dois
sanduíches, embalou algumas fatias de melancia e colocou-os dentro de uma cesta,
ao lado de uma garrafa de água. Ele saiu no quintal e foi até o galpão apanhar
a pá e a enxada. Ele retornou à cozinha, quebrou um pedaço do piso e começou a
cavar o túnel, guiado por uma bola de luz que parecia ter vida própria.
Joaquim passou vários dias
cavando e teve que retornar muitas vezes à sua casa... Mas, apesar do cansaço,
ele não desistiu e continuou cavando até, finalmente, chegar à casa subterrânea
que o seu amigo ocupara.
Decepcionado por não
ter encontrado o gato, ele sentou em uma poltrona e reparou que, do lado
direito, sobre uma mesinha, havia uma flauta e, sob a flauta, havia uma folha
de papel cuidadosamente dobrada.
Ele levantou a flauta e
apanhou o papel imaginando tratar-se de um bilhete que o estranho homem
baixinho, de orelhas pontudas, deixara. Ele não se enganou... O bilhete dizia:
“Você não cavou um túnel para encontrar um gato que nunca existiu!... Eu
inventei essa história porque precisava que você cavasse por algum motivo que
não fosse a sede de riquezas. Todo o ouro que acumulei agora é seu, e você o
encontrará dentro de um baú que guardo em meu quarto. Esse baú não tem fundo...
Isso significa que o ouro dentro dele jamais se extinguirá... Quanto às cascas
de melancia, eu nunca precisei delas e sempre as enterrei após retirá-las da
sua casa. Era o interior do seu coração que eu precisava conhecer antes de
entregar-lhe o meu tesouro. Seja generoso e use as moedas com humildade, modéstia
e sabedoria.”.
Agradecido, Joaquim
seguiu a recomendação do amigo. Ele se casou e beneficiou muitas pessoas com sua
fortuna. Mas, nem mesmo para a sua amada esposa, ele contou que possuía uma
fonte inesgotável de riquezas.
Texto: Sisi Marques
Arte: Felipe Farias
Querido Leitor,
Leia também a história: