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quinta-feira, 30 de julho de 2015

COMO GANHEI MINHAS ASAS





Você gostou das minhas asas?!... Elas são lindas, não são?!... Mas houve uma época em que eu ainda não possuía asas. Deixe-me contar-lhe como ganhei minhas asas e, também, como elas se tornaram tão belas!...

Desde que despertei para esta realidade, eu sempre tive esta aparência, mas eu ainda não tinha um nome!... Você deve imaginar como eu me sentia: uma fada sem nome e sem asas!... Confesso que sentia inveja das outras fadas: delicadas, ágeis e eficientes!...

A minha vida começou a mudar no dia em que vi uma garota chorando. Embora ela não me visse, ela conseguia me ouvir. Ela deve ter imaginado que eu fosse sua intuição, porque eu comecei a falar e, em pensamento, ela me dizia o que eu precisava saber.

Eu acabei descobrindo que Flávia estava triste porque sentia saudade de Leandro, o amigo que teve que se mudar com a família. Ela estava preocupada e receava que ele a esquecesse. Dentro das minhas habilidades tão limitadas, eu só poderia conversar com ela e emitir boas vibrações. Foi nesse momento que eu descobri o meu nome: Esperança.

Era exatamente isso o que eu deveria transmitir: esperança!... Eu fiquei satisfeita quando Flávia parou de chorar e ensaiou um sorriso. Eu desejava poder fazer mais por ela, mas o que uma fada sem asas poderia fazer?!... Fiquei assustada e feliz quando, de repente, um par de asas instalou-se nas minhas costas!...

Qualquer fada, que me visse com aquelas asas transparentes, olharia para mim com ar de desdém!... Mas elas eram minhas!... E voavam!... Eu precisava encontrar Leandro!... Precisava dizer a ele que Flávia o amava e temia que ele a esquecesse.

Voei, voei e continuei voando até conseguir localizar Leandro. Era como eu suspeitava: o coração dele estava ausente, porque não saíra um minuto sequer do lado de Flávia... Eu pousei em seu ombro e sussurrei em seu ouvido: “Flávia está apaixonada por você e receia que você a esqueça. Volte, Leandro!... Você precisa encontrar um modo de voltar!...”.

Leandro era ainda mais receptivo do que Flávia, e eu me surpreendi quando o ouvi murmurar: Flávia!... Flávia!... Que saudade, Flávia!... Eu preciso encontrar um modo de voltar!...”.

Eu permaneci ao lado de Leandro durante meses, porque ele sofria ainda mais do que Flávia. Ele insistia com os pais para que eles voltassem a morar na mesma casa, mas a casa não estava mais disponível. Eu não sabia mais o que fazer e decidi voltar para o lado de Flávia.

A garota ainda acalentava o desejo de que Leandro retornasse. Havia uma casa para alugar ao lado da casa onde ela morava, e Flávia ficava imaginando seu amigo entrando e saindo da casa. Ela até mesmo o via acenando da janela.

Eu precisava fazer algo para ajudá-los e voltei para contar a Leandro sobre a casa. Intuitivamente ele abraçou a ideia, e os pais dele ficaram surpresos quando verificaram que realmente havia uma casa que eles poderiam alugar.
  
Quando Flávia e Leandro se reencontraram, eu senti uma alegria imensa, e a felicidade que brilhava esplendorosamente nos olhos de Flávia coloriu as minhas asas!...

Quando você sentir o ânimo renovado pelo calor da esperança, lembre-se de mim. É bem provável que eu esteja pousada no seu ombro, sussurrando as palavras que apenas o seu coração conseguirá ouvir.


Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias


Arte Felipe Farias (3)



sexta-feira, 24 de julho de 2015

ALOÍSIO E OS HABITANTES DO BOSQUE DAS MARGARIDAS




Aloísio, todas as manhãs, levantava cedinho e ia ao mercado para abastecer sua velha carroça com verduras, frutas e legumes. Depois, passava o dia inteirinho visitando seus fregueses. Muitos deles moravam longe da vila, e Aloísio precisava percorrer a longa estrada de terra para atendê-los.

Em uma dessas viagens, Aloísio se compadeceu de uma velha senhora que caminhava sozinha pela estrada poeirenta. Atenciosamente, ele parou a carroça e ofereceu-se para levá-la aonde ela precisava ir. Eis o que a estranha senhora respondeu: “Eu não preciso da ajuda de ninguém para chegar ao meu destino, pois sei muito bem aonde quero chegar. Mas você, Aloísio, precisará da ajuda de gente miúda para encontrar a sua prosperidade.”.

Confuso, Aluísio perguntou: “Como sabe o meu nome?!...”. E a velhinha, que já havia começado a se afastar, disse: “Há cogumelos gigantescos no Bosque das Margaridas!... Ninguém reparou neles, porque eles não servem para comer e não têm a cor do ouro. Talvez apenas os puros de coração consigam vê-los... O seu coração é puro, Aloísio Verdureiro?!...”.

Aborrecido, Aloísio seguiu em frente com a carroça!... Não prestaria atenção às palavras daquela mulher que parecia maluca!... Entretanto, uma coisa era certa: Ele se lembrava de ter visto os tais cogumelos quando ainda era garoto; mas, depois que cresceu e começou a trabalhar, nunca mais teve tempo de retornar ao Bosque das Margaridas. Aloísio balançou a cabeça e voltou a se concentrar nas entregas que ainda teria que fazer. Quando voltou para casa, já havia anoitecido.

Na manhã seguinte, ele estacionou a carroça na frente do mercado, mas não desceu porque se preocupou com a agitação dos cavalos. Eles pareciam ver algo que ele não conseguia ver. Mas ele desviou a atenção quando olhou para trás para ver quem havia dito: “Compre tomates, muitos tomates!!!... Tomates redondos, cheirosos e bem vermelhinhos!!!... Adoramos tomates!!!...”.

Não conseguindo acreditar no que os seus olhos viam, Aluísio balbuciou: “Quem é você, e quem são eles?!...”. Estufando o peito e endireitando o corpo para parecer maior, o homenzinho respondeu: “Os grandalhões como você costumavam nos chamar de ‘gente miúda’, mas atualmente ninguém mais consegue nos ver. A propósito, é impressão minha ou você consegue mesmo me ver e ouvir?!... Se a resposta for sim, me diga por que ainda não foi buscar os tomates!... Vá logo porque temos uma troca a fazer: você compra dezessete tomates, e nós encheremos a sua carroça de legumes, frutas e verduras!... Dezessete!... Lembre-se: você tem que trazer dezessete tomates, porque cada um de nós tem uma família para sustentar.”.

Aloísio não questionou a ordem... Desceu da carroça, entrou no mercado e voltou com dezoito tomates. Aloísio também gostava de tomates e, naturalmente, um dos tomates era para ele. Quando ele olhou para dentro da carroça, surpreendeu-se ao ver os homenzinhos dançando e cantando canções em um idioma que ele desconhecia.

Aloísio teve que levar os homenzinhos de volta ao Bosque das Margaridas, porque a magia deles não seria suficiente para transportar também os tomates. Ele ficou encantado ao ver as casinhas, ou melhor, os cogumelos onde os homenzinhos moravam. E surpreendeu-se quando ouviu uma das crianças dizer: “A natureza é sábia. Conseguimos produzir tudo, menos tomates. E é de tomates que mais gostamos. Se soubéssemos cultivar tomates, acreditaríamos que somos autossuficientes e não precisamos de ninguém. Mas sempre tivemos a necessidade de que alguém nos trouxesse os tomates, e essa necessidade garantiu que não nos afastássemos completamente dos seres humanos.”.

Aquele foi o início de uma duradoura amizade que beneficiou a todos... Aloísio visitava os homenzinhos diariamente, para levar-lhes os tomates e abastecer sua carroça com verduras, frutas e legumes. Ele logo se tornou um comerciante próspero. Com a ajuda dos homenzinhos, ele abriu o seu próprio mercado, contratou empregados e passou a ter mais tempo para divertir-se na companhia de seus amiguinhos.



Texto: Sisi Marques

Arte: Felipe Farias




Querido Leitor,

Leia também a história: ALOÍSIO, CLÓVIS E LUANA

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Arte Felipe Farias (1)



JOAQUIM E O LADRÃO DE MELANCIAS




Era sempre a mesma história!... E Joaquim já estava começando a perder a paciência!... Ele adorava comer melancias; mas, quando as comprava, elas simplesmente desapareciam.

Na última vez em que elas foram roubadas, ele ouviu um barulho na cozinha e correu, porque tinha a certeza de que lá estava o ladrãozinho!... Joaquim não se enganara!... A porta estava aberta, e ele viu um homem baixinho, de orelhas pontudas, fugindo com as melancias debaixo dos braços.

Acreditando ser mais esperto do que o estranho sujeito, Joaquim, na manhã seguinte, comprou mais duas melancias e devorou-as. Sobraram apenas as cascas, que ele havia partido ao meio com todo o cuidado, para depois poder uni-las novamente.

Quando a noite chegou, Joaquim escondeu-se no quintal, atrás de uma árvore. Pouco tempo depois, um vulto ligeiro pulava o muro, atravessava o quintal e abria a porta da cozinha. Joaquim pensou em correr para apanhar o ladrão; mas, como se estivesse enfeitiçado, o seu corpo não obedecia ao seu comando, porque os seus pés pareciam estar colados na terra.

Felizmente, o desespero de Joaquim durou apenas alguns minutos... Foi só ele ver o homem baixinho, de orelhas pontudas, deixar a cozinha, atravessar o quintal e fugir pulando o muro, ele conseguiu recuperar os movimentos. 

Joaquim entrou em casa com a lembrança daquele estranho ser assombrando sua mente!... Ele se perguntava o que poderia fazer para livrar-se do infeliz que roubara até as cascas!!!... Sentindo-se deserdado da sorte, ele se preparava para esmurrar a mesa quando os seus olhos esbarraram em uma folha de papel cuidadosamente dobrada. No momento em que ele apanhou o papel para ler a mensagem, uma moeda de ouro caiu sobre a mesa. O bilhete dizia: “Obrigado. Nas outras vezes, eu não retribuí o favor, porque tive o trabalho de limpar as cascas para guardar o meu ouro.”.

Você deve estar se perguntando se o homem baixinho, de orelhas pontudas, voltou à casa de Joaquim para buscar mais cascas de melancia. A resposta é sim!... E ele sempre deixava uma moeda de ouro quando encontrava as cascas limpas.



Texto:  Sisi Marques

Arte:    Felipe Farias





Querido Leitor,

Leia também a história: JOAQUIM E SEU ESTRANHO AMIGO .

CORACÉLIA E CORARMANDO

Célia e Armando eram vizinhos. Conheceram-se quando ainda eram crianças e estudaram na mesma escola. Se a ambição dos dois não fosse maior do que o amor que sentiam um pelo outro, eles certamente teriam se casado. 

Coracélia, o coração de Célia, e Corarmando, o coração de Armando, sofriam com a separação. Célia e Armando, em vez de se unirem, seguiram caminhos opostos. Os dois se casaram por interesse para divorciarem-se da pobreza que tingia de cinza os seus sonhos de felicidade.

Felicidade!... Como dois corações que juraram amor eterno, não com palavras mas com a troca de olhares, poderiam ser felizes vivendo longe um do outro?!... Célia e Armando pareciam não se importar com o desamor que se instalara no lar onde cada um deles vivia. Mas os corações, desesperados, não conseguiam se conformar com a separação e choravam porque acalentavam a esperança de se reencontrarem na terra dos sonhos. 

A fada que protege os corações apaixonados não poderia ficar alheia a tamanho sofrimento... Agitando sua varinha mágica, ela pronunciou as palavras: “Coracélia e Corarmando, dois corações repletos de amor que não podem continuar habitando corpos de pedra!... Célia e Armando não merecem um coração amoroso. Cada um de vocês será substituído por um coração empedernido que possa garantir a cada um deles apenas a existência. Quanto a vocês, vivam eternamente, na terra dos sonhos, o amor que souberam nutrir e proteger!...”.

Ao contemplar o brilho de gratidão e felicidade nos olhos daqueles dois coraçõezinhos, a fada sorriu e despediu-se porque precisava providenciar a troca de corações. Desde aquele momento, Coracélia e Corarmando nunca mais se separaram e viveram felizes para sempre.





Arte Sisi Marques (2)


Arte Sisi Marques (1)